quinta-feira, 24 de abril de 2008

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - PARTE 1


Uma das coisas que me fragilizavam apenas em falar era a violência doméstica, pela sua absurda forma de acontecer, pela sua covardia e de onde,quase sempre saíam,incólumes, os seus agressores.

Gestos que classificávamos como "perda de paciência", olhar impiedoso que acreditávamos ser "desabafo" de rotina, palavras rígidas e incisivas que justificávamos como "maneira de falar". Desdém e maldade que jamais analisávamos como princípio,meio e finalidade de agredir. Pelo simples fato de que a gente se acostuma!

A gente faz vista grossa à tudo em nome da família, dos laços que ( ? ) nos unem e pelos filhos. Transformamo-nos em muro de testes para munição e não nos damos conta de que,à nossa volta, nada pára e nos suporta, senão nós mesmas. Simulamos uma felicidade sinuosa,enquanto o nosso próprio conceito de felicidade vai descendo ralo abaixo,transpondo rios e alcançando o mar infinito e irrefreável. Fechamos as janelas de nossa inteligência e sufocamos a nossa capacidade de desfrutar o mundo exatamente como ele existe: Para todos nós!!

Por muito tempo, levam-nos, e nós tbm, a acreditar em nosso oblíquo comportamento diante dos fatos, da convivência e dos amores, até então, encerrados alí mesmo, em nosso "lar". Quer nos parecer que todos estão insensatos, impiedosos e que nada há de errado em apanhar de vez em qdo, em ouvir grosserias, levar empurrões, ouvir ditaduras e conjeturas irracionais mas absolutamente legíveis em nome de um casamento.

Até bem pouco tempo, naufragava a nossa identidade, dia após dia, no latente e inconfundível desdém de nós mesmas. E quem nos diria sermos capazes de nos conduzir e às nossas vidas sem aquele leme sempre à postos; sem o freio justo e presente pastilhando soberbamente sobre nossos cérebros. Quem, em tamanha impetuosidade e atrevimento sopraria as cortinas de fumaça que durante anos encobriram a nossa triste realidade? Porque a gente se acostuma. E quem acostumado está, cego está, surdo fica e falham os demais sentidos. Tranca-se o espírito antes livre, n'algum calabouço distante e atira-se as chaves num abismo sem fim.

Mas aí, como badalo insistente e poderoso, soam os primeiros acordes do despertar. É fácil? Não, jamais o será. Geralmente vem em forma de tempestade, arrastando tudo que encontra pela frente. É a bofetada mais forte, a humilhação sentida no âmago ainda não atingido até então. É o empurrão que destrava o cadeado enferrujado, a palavra cortante que abre e dilacera a ferida latente. É um filho que se encoraja e se interpõe na tentativa de fazer cessar os atos,verbais ou não. É a porcelana lançada ao chão, o teclado de seu pc, sua única companhia nos últimos meses ( quem de fato lhe ouvia e dava vazão ) fatalmente atirado contra a parede. São seus ouvidos, recebendo insultos inopinados. Está formada, então, toda a sua vasta e inadvertida forma de encarar a violência dentro de casa!!!


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