quarta-feira, 29 de julho de 2009

CARTA PRA VOCE - PARTE III

Hoje estou suave. De verdade; e você logo verá porque.
Não me atire pedras senão fico lhe devendo mais esta e além disso, o castelo já está pronto. Eu falei pra você não se apaixonar. Eu expliquei o tempo todo que só me bastava a presença e o cotidiano intercalado pelas emoções. Incansavelmente lhe pedi pra não se opor a mim, não tentar manipular o teatro e tampouco dizer sempre a verdade. Incoerente eu não sou mais, já fui,você sabe.
Agradeço as rosas, mas realmente as prefiro no jardim que foi meu. Tudo bem, este assunto já tratamos. Posso continuar suave? Então vamos relembrar o que me falta arquivar em definitivo. Esqueça aquela carta de amor, jogue fora, queime se puder. Fui infantil, eu sei, mas há momentos em que nada podemos fazer senão escrever cartas de amor. Você concordará também que as suas eram muito mais melosas e algumas sem sentido até. Aventurar-se pela literatura e poesia não são exatamente as suas aptidões. Aliás, até hoje não as conheço. Perdão, vamos pular esta parte. O que fará com aquelas fotografias coladas na parede do quarto? Cuidado, em algumas estou tão bela que ofusquei você,fala sério!! Melhor tirá-las de la, seu novo par pode não gostar. É, estou muito suave, que bom!! Ontem eu ví você. Verdade, na loja de departamentos. Eu era aquela que passou a seu lado com a frigideira na cara. Foi o que pensei de mais rápido pra me esconder. Não reconheceu as minhas mãos? Ah,sim, cortei as unhas. Eu sei, eu sei, estou ficando diferente. Mas é que cada coisa em mim que me lembre você está sendo mudada naturalmente. E eu nem sei o motivo. Você sabe? Não conte pra ninguém então, guarde segredo. Acho que faço parte daquele grupo de mulheres que não suportam nada que lembre tristeza e sofrimento. O que isso tem a ver com as unhas? Ué, não tem, simples assim. Não recomece, estou suave,já falei. Voltando a fita, sua mãe me telefonou. É, ela mesma. Sinto muito, mas pedi que não ligasse mais. Não possuo os dotes profissionais de que ela precisa. Além do mais, depois que me recuperei não suporto ouvir falar em doença. E de psicóloga não tenho nem o dom. Vamos combinar, precisamos cortar logo os cordões que nos ligam. Você segue seu caminho, apaixonado ou não, decida-se, a vida é sua. Eu sigo o meu, de avião que é mais rápido e dói menos a minha coluna. Esquece a casa, é tapera esquecida pra mim e o que podia fazer por nós, ela já fez. Cumpriu seu papel de abrigar muitos momentos de paixão e emoções em cascatas. Já ouviu muitas palavras doces (minhas, claro) e promessas de inverno aquecido sob edredons e corpos nus. Aquelas paredes guardam nossos segredos mais íntimos, por isso, pinte-as urgente. Não quero foto alguma, virei a página. As vezes me dizem que não, que estou me enganando. Só se eu acreditasse em gnomos. Ou fadas. Não, muito pouco provável.
Quanta suavidade, não concorda?
Fechei as malas, vou indo. A propósito, comprei a frigideira e levo-a comigo. Não sei, pode ser que a gente se esbarre pelo aeroporto, ela me será muito útil.

Abraço.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

OFUSCA

Não é que desejasse o que os outros tinham.
Tão somente queria ter o seu fusca.
Mas o "civic" da vizinha ofusca o seu sonho de um fusca.
Buscasse a realidade e alí não caberia a intenção.
A realidade da outra ofusca a sua pretenção.
Sem texto ou COMtexto,
ficaria tudo mesmo embaçado.
Melhor anunciar em letras cabíveis em algum jornaleiro.
O fusca ainda levaria tempo por vir,
de bom sonhos o céu está cheio.
De boa esnobada o inferno se povoa.
Ofusca saber da outra a perfeição.
Comer maçã esperando melão.
Entender de contas e receber
mas somente contar o que irá sair.
Só queria mesmo, de fato, um fusca.
Parece-lhe menor visto assim de soslaio,
rapidinho pra não ofuscar a vontade.
O sonho diz "daqui não saio",
a realidade responde " espera na vida, a metade"!

Cris.

VISÃO DE MIM.

Eu só posso dizer de mim o que sei. O que mais nada poderia dizer, sendo assim as pessoas sempre preferem o que veem. O que está visível não é a realidade. Mas cada um faz a visão que quer fazer e trata desta forma de espalhar-me de maneira surreal. Azar delas. Sorte minha!

Dona Cris.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

CONJUGA AÇÃO

Eu quero ir,
tu queres ir,
as crianças não nos deixam ir.
Eu estou sozinha,
tu estás sozinho,
nós estamos distantes um do outro.

CRIS.

CRISE DE MULHERZINHA

Só pra deixar claro: Não sou contra a mulher que trabalhe fora de casa, nem a que se dedique ao lar somente. Enfim, em ambos me incluo e não deixo dúvidas quanto aos problemas que existem entre um e outro caso. O fato é que venho mudando de fase muito rapidamente nos últimos tres anos e sinto na pele o que cada uma delas representa. Depois de casada não trabalhei mais. Fora. Porque dentro jamais parei. E constatei o quanto os homens são egoístas quando meu ex-marido perguntou outro dia (quase que recebendo um jarro de água de volta) "por que você não trabalha em casa? Sai deste emprego?" Só podia ser um descuido de amor pela própria vida, senão,vejamos. E o que eu fiz durante os vinte e dois anos em casa? Não era trabalho, lógico, foi e sempre será escravidão. Absoluta. O problema surge quando não temos zeros pra direita suficientes no contra-cheque, a fim de pagarmos uma ajudante. E acumulamos tarefas. E somos sobrecarregadas. E sofremos. O que me fez questionar foi a percepção de que não havia mais tempo pra me cuidar, pra me divertir. O que sobra é desumanamente aplicado nas tarefas domésticas, no cuidado com os cachorros e lazer com as filhas. Lazer? Pra elas, pois não encontro um modo de fazermos algo agradável a ambas. Eu sobro sempre. Somos tres cabeças diferentes, gostos diferentes e um só tempo. "No zerinho ou um" me dou mal e nem chorar adianta. E ainda fico doente bem no dia em que a escolha é minha. Lei de Murph? Eu passei a me perguntar por que encontro sempre seis copos pra lavar quando havia apenas tres para uso geral em cima da pia; por que motivo eu sempre chego primeiro e estabelecemos que "quem chega primeiro lava a louça do dia"; por que todos estão irremediavelmente atrasados e eu não; e finalmente por que eu sou a única que não "curto" o resfriado sobre uma cama quentinha e tenho sopa a minha disposição. Lembro que antes de trabalhar "fora" eu não adoecia com frequencia e meu estresse estava sob controle. Me deu muita saudade deste tempo e apesar de gostar muito do dinheirinho que entra todo mes, no fundo tenho que admitir que era mais feliz sem precisar dele. É a necessidade. A mesma que agora me faz procurar outro emprego e ganhar mais um pouco pra "bancar" uma ajudante. Quando falo isto, um amigo muito querido me lembra que "somos neo-pobres e ajudante para esta nova classe social é algo quase impossível". Mas existe o "quase",. Sonhar não custa e se custar eu finacio! Deusolivre parar de sonhar!! Onde eu guardaria aquele carro bacana de quatro portas, aquela viagenzinha pra europa ou até mesmo aquela ajudantezinha fiel e eficiente? Em meus sonhos,claro. E aquele salário de muitos zeros pra direita? E aquele namorado assim...um tanto quanto...Ah,tudo bem, sonhei alto! E fiquei repensando a tal emancipação da mulher. O que lucramos afinal? Direitos iguais? Silicones? Ter que dividir a conta? Feminismos a parte, sinto falta dos tempos de cavalheirismos e poesia. Porque ninguém me convence que existe poesia em trabalhar o dia todo fora e ainda continuar assim quando entramos em casa; não vejo graça em ter calos nos pés pelos sapatos e sandálias (eu já tentei,mas tudo me causa dano),não poder ir ao salão sem ter que correr e burlar horários, não tirar aquela sonequinha depois do almoço ou beijar deliciosamente a filhinha quando ela chega da escola (porque estou no expediente ). Ainda por cima "morrer" de medo de ser demitida porque faltei pra levar a filha ao médico ou porque eu mesma adoeci. Chego a conclusão de que o mundo masculino é bem mais feliz nestes casos. Tudo bem, algumas colegas dizem que vencem tudo isso quando vão ao shoping e pagam elas mesmas as suas compras. Justíssimo. Pra elas. Pra mim não sobra. Mas resta o consolo de que um dia eu também chegarei lá. Pelo menos eu estou tentando. Desistir não. Investir é a palavra que melhor se encaixa agora. Mas não posso negar o fato de que também gosto de ser "mulherzinha". De vez em quando. E só. E não para qualquer um. Porque "mariazinha" já não sou faz tempo. Maria. Cristiane Maria,melhor escrevendo. Cris. Para os íntimos. E só!

Beijos de uma fênix.
CRIS.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

FILHOS - PARTE I

É o velho clichê de sempre. Por melhor que sejamos, mais virtudes reunimos, livros que tenhamos lido, nada importa. Filhos são e sempre serão uma surpresa após a outra. Perdoem, mas hoje não consigo imaginar outro assunto. Quem os tem, quem já os viu criar asas ou quem analisa agora as possibilidades de procriar, convém não pensar muito senão desiste. O roteiro não muda, alguns podem até burlar a página, dar voltas, apostar na outra tentativa mas cairá sem rodeios nos mesmos personagens, erros, acertos e dúvidas. Porque seria mais fácil virem com manual de instrução e resenhados claro, pois não temos mais tempo disponível para uma enciclopédia. Eu sinceramente não me lembro de meus pais buscando análises técnicas para lidarem com meus irmãos. Se não me incluo aí? Não lembro também. Nestas horas prefiro ausentar a memória. Vai dando tudo certinho na medida em que se tem as respostas num caso aqui, um mais velho ali, uma entrevista acolá. E a sensatez, esta é fundamental. Questões existem as mais complexas e a partir de conjeturas firmemente protestadas cria-se o próprio mandamento. Quando nascem, nosso seio é suficiente, quer nos parecer tudo tranquilo a nossa volta ou pelo menos assim senti; mas a coisa toda cresce e muda na mesma proporção dos rebentos e a gente começa a ter la no fundo o desejo que se tornassem autotróficos (mandei bem,fala sério!). É uma agonia interminável a elaboração de um cardápio e suas substituições, hora certa e choro desesperado de fome quase sobrenaturais. Mas é uma fase. Passa. A sua passou? Nem a minha. Certa vez um pediatra-psicoterapeuta-infantil-chefe-de-setor-sei-la-de-onde me assegurou ser necessário vitaminas farmacológicas extras,já que eu não tinha um pomar no quintal e ninguém me garantia que as frutas da feira foram colhidas momentos antes de estarem ali expostas. Entendí. Fiquei meio frustrada achando que não tinha nenhuma formação técnica para cuidar das crianças. Senti que me faltava muita informação, que não saberia conduzir as coisas. E acabei esquecendo que esta não seria a primeira vez a passar por tudo isso. Foi com grande alegria e satisfação que parei de me atormentar quando a minha primeira filha veio me dizer "mãe, deu certo comigo,você foi maravilhosa, eu sobreviví, ela também vai sobreviver". Ah!! Mas que ótimas palavras. "Eu sobreviví"!! Sobreviveu a mim!!! Legal,pensei, se algum ser é capaz de sobreviver a mim, então tá tudo certo. Sinal de que eu SEI CONDUZIR AS COISAS! Alentador...
O fato é que a gente sabe e duvida porque quer. Há uma verdade que nenhum médico sabe explicar mas que também não tem o direito de duvidar: Somos mulheres, agimos com a razão, porém em se tratando de filhos o instinto e a sabedoria que nos é nata se sobrepõe. Basta-nos a intuição materna, o resto se ajeita. Nem que esta intuição venha nos levar a buscar ajuda seja la onde for.
Esta semana a questão da sexualidade "brotou" aqui em casa. A pequena de onze anos me pegou de surpresa. Liguei pra amiga psicóloga, busquei leituras a respeito, perdi o sono,chorei. Mas novamente foi a mais velha quem me salvou ao dizer "mãe, comigo você foi nota dez, eu entendí tudo, as explicações foram claras e suficientes, você soube conduzir e sou uma adulta feliz; repita com ela, vai dar certo".
Mais um cascudo destes e volto pro jardim de infância!!!!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

SEM SENTIDO

Nem toda ausência é sentida. Depende do sentido que damos a ausência de alguém. Há ausências esquecidas antes mesmo de existirem. Mas se não existem, não podem ser sentidas. Há ausência insuperável. É nesta que eu existo agora. É por esta que eu sinto tanto neste momento!

Anjo (iluminando o caminho pra outro Anjo passar!)