Antes de mais nada, vou esclarecer que não mencionarei alguns detalhes por questão sentimental mesmo.
O CIPE não é muito grande, à entrada observa-se boa parte dele através de uma porta de blindex. Do lado de fora,há umas cadeiras brancas lado a lado onde mães e pais aguardam a internação de seus bebês,crianças. Alí permanecemos até a chegada da Dra. Helena que nos conduziu à enfermaria e ao leito onde Luísa ficaria por doze dias. Ela nos esclareceu os próximos procedimentos, deu algumas explicações acerca da rotina do CIPE e nos deixou aos cuidados de enfermeiras. Deixe-me descrever de forma simples o que é o CIPE:
Na entrada, a esquerda, fica a sala de "expurgo"; seguindo, a copa onde as crianças fazem refeições ( são seis ao todo ), a sala das enfermeiras, o banheiro das crianças. No centro fica o posto de enfermagem e continuando na esquerda vem duas enfermarias com quatro berços cada uma. No final, duas salas lado a lado também que servem de apoio para médicos e enfermeiras. À direita de quem entra fica a sala onde médicos atuam,agendam cirurgias,consultam se necessário e pesam as crianças. Depois vem a sala de procedimentos, o banheiro usado pelos acompanhantes ( eu usava este ) e duas enfermarias com três leitos cada uma para crianças maiores, claro. Em todas as quatro enfermarias havia uma cadeira para cada acompanhante; elas não são confortáveis,mas bem melhor que as tradicionais de fibra, além do que,reclinavam totalmente para que dormíssemos. Ou,pelo menos,tentássemos. Não achei ruim não,apenas não me adaptei como pensava. Esta talvez tenha sido uma das partes engraçadas ( sim, por que não? Em tudo o que passamos na vida precisamos da parte engraçada;assim, torna-se mais leve o fardo! ). Eu não conseguía me entender com a engrenagem que a fazia reclinar,sempre precisava de ajuda e ao acordar fazia o maior barulhão para retorná-la a posição inicial, era muito estrondoso pois toda a parte de ferro estava sêca demais,o ranger era absurdo, isso me fazia rir muito,acreditem. Quem ainda dormia, era despertado pelo barulho,alguns se assustavam. Isso num hospital soava mal educado e totalmente inapropriado, mas o que eu poderia fazer, estava fora de controle pra mim. E olha que várias vezes eu mesma sugerí um rápido "curso" de conduta para acompanhantes; Absolutamente necessário,mas nem vou explicar muito o porquê, seria difícil, creiam-me.
Quando Luísa foi internada, a enfermaria estava vazia. Crianças tiveram "alta" . Aliás, esta é uma das coisas que me chamaram atenção logo de início. A rotatividade de cirurgias feitas. Entrava e saía criança que não me lembro de todas. Notei que, para as cirurgias mais simples, a internação era de no máximo dois,às vezes três dias. Havia criança que operava e ia embora no mesmo dia. Não posso citar nomes técnicos nem detalhar pois sou absolutamente leiga a este respeito. Mas ouvia, perguntava, a curiosidade me é peculiar, a sombra da escritora me persegue de tal modo que não resistia. Até porque não havia muito o que fazer antes da cirurgia de minha filha, que aconteceria na segunda, dia seis. A enfermaria ao lado abrigava crianças com cirurgias mais simples, este foi um detalhe que não deixei escapar. Não era via de regra,mas naqueles dias valeu para tanto.
Como acompanhante, eu tinha direito à três refeições: Desjejum, almoço e jantar. Descia ao térreo,saía pela direita do pátio de encontro ao refeitório do hospital. Esta parte teve seu lado bom e ruim. Bom que eu podia sair um pouco, sei lá, ver o sol, o céu, respirar sem sentir o cheiro do éter, dos perfumes e sabonetes dos acompanhantes, poder comer algo que não fui eu quem cozinhou ( isso adorei! ). Ruim porque tinha que sair de perto da Luísa, ver seus olhinhos brilharem em lágrimas por me afastar, saber que ela não estava vendo o céu, o sol, a chuva, saber que estava me alimentando e ela fazendo a dieta necessária. Mas pelo menos um pouco disso eu conseguí mudar adiante e depois saberão como. No dia da internação, após deixar minha filha devidamente "almoçada" e no leito, descí pra almoçar também.
À tarde, mais duas internações na enfermaria onde estávamos: A menina Júlia, da mesma idade da Luísa, e Mariane, de seis anos. Júlia estava acompanhada do pai pois a mãe, Vera, estava no trabalho e viria mais tarde pra ficar com ela e Mariane estava com a mãe mesmo.
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