quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

PAIXÕES

E eu sei onde terminam as grandes paixões. Sei porque deixam pedras no caminho. Permitem visões, escoriações. Mas nunca sei onde começam. Estranho paladar de ameixas e anis capazes de adocicar e amargar os litros de fetiche que carregam!
Certa vez emprestei ouvidos à uma estranha num trajeto de metrô, que pausadamente narrava a sua desventura amorosa. Cada vez que ela aliava voz e embargo à determinado trecho, adentrávamos túnel sutil e eu, aliviada, acenava com a cabeça negativamente. Devo ter perdido,cautelosamente, os momentos picantes e de maior saudade para aquela criatura que possuía uma postura de mãos indelével. Sorria e chorava numa camada de aceno de mãos impressionante. Poderia enxergar de olhos vendados,toda a palidez da minha interlocutora qdo citava o nome vermelho da culpada: Paixão!
Já me apaixonei. Já contornei o vale da côr púrpura. As asas que me levaram, partiram-se. Voltei pelo solo até reconstruí-las mais tarde. E ainda lembro da névoa azulada que me conduziu ao solo. Foi insólito. Entristeceu, mas renascí.
Então,acalmei a moça e pedí que orasse. Sim,muitas vezes somos rsponsáveis pelos nossos desaventos, no momento em que no descuidamos de nosso lado espiritual e permitimos portas abertas ao desenlace das agruras. Ela entendeu e antes que pudesse dizer mais alguma coisa, acenou com sorriso mais calmo,de quem encontrou a resposta ao caos interior. Sei lá, às vezes divido palavras com desconhecidos e mais tarde eu mesma as envolvo em meu caminho. Guardei as frases e lágrimas da moça , o adeus de mãos magras e elegantes e a porta do trem fechando-se majestosamente. Guardei o pulsar de seu coração ao falar de momentos de total ausência da razão, de um certo vinho e final de noite entre lençóis. Fiz meu apanhado,mesclei e fechei no baú. Sei lá, posso ser a próxima a precisar dele. Melhor não arriscar, posso não ter a mesma sorte e me expor pra pessoa errada!
E lá se foi o metrô pra próxima estação.
Ou pra próxima paixão!

sábado, 24 de janeiro de 2009

LUTO E ALÍVIO : EMOÇÕES

Esta é,certamente, uma história verídica, cujos fatos andaram quase todos ocultos. Compunham o mais sinuoso dos quebra-cabeças e sua lista de personagens nos remete à nossas próprias vidas.
O ano é 1979. Minha irmã espera a primeira filha e compartilhamos momentos de expectativa em toda família. Por outro lado, minha tia caçula também aguarda a chegada de uma menina após tres filhos homens. Ela vive com meus avós numa pequena casa no mesmo terreno onde mora seu irmão, a mulher e os filhos. São, portanto, duas vertentes, duas tias, ações e pensamentos distintos,mas entrelaçados por um destino inimaginável. É como o vento que remove as areias e mais tarde as trás de volta ou como a tempestade que arrasta os telhados, derruba muros e paredes que se pensava sólidos. Fica-se a lamentar os tijolos caídos,partidos,algo inexplicável e devastador. A arte,definitivamente, não imita a vida,pelo menos não no caso dos tijolos.
Dificuldades existem e são passíveis de gerar soluções cegas e de finais imprevisíveis. Se há os desatentos e inexperientes,há também os que acreditam em suas idéias e as promovem sem esperar oposição. A tia, que era cunhada, convenceu,embasada na realidade absoluta, a entregar a menina que viria para adoção e já tinha quem se propusesse a cuidar da pequena com esmero,carinho e tudo se propunha também a fazer para seu fututo promissor,zelando por sua vida e integridade. Minha tia, mãe de tres e aguardando a tão sonhada menina, concordou. Ambiguidades que não saberia explicar sem passar por um coração aflito, entrelaçado de dor pela escolha e suas consequências, além de ser necessário explicar as verdadeiras e improváveis razões. E assim, tão logo nasceu a bela menina,que chamarei aqui "Laura", a tia que era cunhada, levou-a para os pais adotivos,antes mesmo que experimentasse dos seios de sua mãe, o gosto quente e diferenciado do alimento vital.
Minha irmã, dias antes, dera à luz uma igualmente linda criança, uma menininha que ajudei a cuidar desde seu primeiro dia no mundo e pela qual nutro o mais belo dos sentimentos e imenso carinho. Minha tia que doara a filha, visitou-nos e segurou entre lágrimas a minha pequena sobrinha. Sentí-lhe a dor dilacerante, observei suas lágrimas e enxerguei seu coração amargurado. Ela, apezar de ter tido uma outra menina anos mais tarde,jamais esqueceu-se de "Laura" e permeava um inferno de saudade e angústia, mesmo a outra lhe garantindo estar a criança muito bem.
O ano agora é 2009.
Minhas tias envelheceram e assim como a minha mãe, alguns já haviam partido desta vida. Nunca cheguei a ver a minha prima que fora adotada,mas tinha na lembrança frgmentos desta história,sabia de alguns personagens e corroía-me a vontade de decifrar o enigma. Mas o tempo passou e eu não tivera chance de esclarecer. Estava de volta à cidade para uma visita à família e à minha tia,que era cunhada, pois ela estava gravemente doente e eu gostava muito dela para admitir a idéia de não fazer-lhe uma visita em vida. A mãe de Laura também está muito doente, disseram ser terminal e,juntando tudo, precisava vê-las . Alguns dias depois e a primeira veio a falecer. Silêncio em alguns, lágrimas, muitas delas. Corrí em sua casa, ví meu tio que é irmão de minha mãe, seus filhos,netos e numa conversa, descobrí que Laura também perdera os pais adotivos e manifestara desejo de conhecer a minha outra tia,sua mãe biológica. No entanto, ardia-me a curiosidade de eu mesma conhecê-la e algo em mim esfacelava a razão. Outra hora explico.
No velório da tia, uma outra,minha madrinha, veio apresentar-me uma jovem. Disse-lhe o nome e sentí as pernas dobrarem,o corpo queimar. Era a minha prima, a Laura. Justo no dia do enterro daquela que lhe tirara dos braços da mãe,alegando realismos de causa, estava alí, junto a todos os demais tios, primos,toda família. Minha outra tia, abatida e cansada, repousava sob uma cadeira. Perguntei à minha madrinha por que não as apresentávamos naquele instante e ela me respondeu estar aguardando a oportunidade. "Oportunidade, respondí, se cria". "Vai ser agora".
Enquanto eu levava a tia pra fora, sob um ar fresco e mais leve, minha madrinha levava igualmente a Laura até nós. E como mágica que nos faz explodir em emoção, todos choramos copiosamente ao mostrarmos uma para outra,mãe e filha, causando-lhes enorme esforço para não desfalecer. Jamais,em t oda minha vida experimentei tantas emoções diversas num só dia,num só local. Chorava a morte de uma tia, a lembrança de minha mãe, o reencontro de minha prima com a minha tia. Reví meus conceitos, minhas prioridades e deixei todos os meus problemas do lado de fora. Havia algo de especial e surrealista naquele instante,não seria egoísta. Todos nós estávamos numa profusão de lágrimas e sentimentos. Impossível narrar mais alguma coisa. De certa forma, todos, a família, devíamos algo para as duas,não sei bem por que razão. Ou ausência dela,não sei. Minha sobrinha era a que mais chorava, presumí o que lhe ocorria naquele instante. Ela tinha a mesma idade,fora embalada pela mãe da outra que jamais provara o sabor tênue e indissipável de seu carinho. Ela sabia o significado de tudo que acontecia. Quase trinta anos separara aquele instante e em sua mente, um dilúvio de comoção a afugentava do presente, do lógico.
E eu conseguí falar mesmo embargada e ineficaz nas palavras, que o tempo ajeitava tudo. Recolocava cada tijolinho em seu devido lugar. Nada ficaria sem resposta nem preso às algemas do passado. Felizes os que conseguiam compreender e perdoar. Notórios os que ainda assim, em meio a tristeza do desenlace carnal de alguém querido, tivesse forças para um afago, um doce carinho, uma terna palavra de amor e compaixão.
Experimentei reações opostas, sentimentos totalmente ambíguos e chorei.
Chorei pela tia que partia.
Chorei pela tia que reencontrara sua menina amada.
Chorei por Laura.
Chorei por minha mãe, que certamente previra este momento e dele participara.
Chorei pela possibilidade que a vida oferece e tantas vezes desperdiçamos.
Chorei...mas também pedí perdão e sentí a leveza de ser perdoada.
Os tijolinhos estão em seu lugar, a construção da vida volta a ser admirada, contemplada e abriga corações em flor!!!
O meu profundo agradecimento à Deus pelas lições !

domingo, 4 de janeiro de 2009

- OPOSTOS -

Para o reveillon, minhas duas filhas estiveram em diferentes lugares, cada uma comemorando do seu jeitinho muito peculiar, com total ausência de preocupações e cercadas de gente que as ama.
Fernanda, a mais velha, foi para o sul, a virada seria em Gramado e passeou por toda a região. Lindas fotos, belos lugares e muito frio. Luísa foi comigo pra região dos lagos, divertido momento e muito calor.
Opostos. E isso me lembrou de falar sobre isso. Opostos.
Sempre significa problema. Já viram algo que não seja?
Nem eu.

Viro a cabeça procurando o que me baste como definição, sossego de ideia e não encontro. Abasteço-me a alma em jorros de erros ortográficos e o papel segue em branco. Hora destilo alegrias, hora indigesto paixões. Dia de tempero apimentado, noite de solidão. Malgrado as horas de espera, imploro tempo veloz.
Todas as melhores coisas da minha vida vieram de opostos. As piores tranformaram-se neles. E eu não sei se lamento ou agradeço. Tenho muita dificuldade em me deixar viver por opostos, mas por outro lado a segurança que dá saber que sou diferente, interpõe-se à dor da verdade. Hoje, o que não tenho, não mais me atrai e o que me dou se estabelece na suficiência. Já me dizem que ando "o bastante" demais,isso afeta?? Mas o sonho ainda vive, se isso interessa saber aos que atiram pedras. Opostos se repelem...no meu caso.

E então, a do frio voltou e nós, do calor, pudemos enfim nos abraçar comemorando o início de nova etapa,novos desejos e promessas ambulantes. Mas sempre olhando acima do horizonte! E passeando os pensamentos... por opostos.

Beijos, leiam-me!!!